Manifesto em apoio à comunidade indígena do Santuário dos Pajés
Via Ponto de pauta
Manifesto
Nós, indígenas, ativistas, profissionais das mais diversas áreas,
militantes socioambientais, pais, mães e, também, estudantes, vimos por
meio desta manifestar nosso integral apoio à comunidade indígena do
Santuário dos Pajés. Também queremos repudiar a postura dos veículos de
comunicação, do governo Agnelo Queiroz, da polícia, de grileiros e
empreiteiras de Brasília que, juntos, tentam desqualificar os militantes
de defesa do Cerrado e apoiadores do Santuário como estudantes rebeldes
sem causas e/ou desocupados.
O Santuário dos Pajés, localizado no Plano Piloto de Brasília, tem
sido o principal foco de interesse de empreiteiros ávidos por lucros
astronômicos que pretendem construir ali condomínios de luxo, expulsando
as famílias indígenas do local. Esta atitude significa uma verdadeira
afronta aos direitos dos povos indígenas que tradicionalmente habitam o
local desde 1957.
Há tempos acompanhamos o descaso do poder público com a
territorialidade para os povos indígenas. O movimento indígena no Brasil
tem travado uma batalha imemorial pelo direito aos seus territórios
livres da ação de invasores e do agronegócio e pela demarcação e
reconhecimento de suas terras, que são verdadeiras frentes de combate ao
desmatamento dos diversos biomas brasileiros.
Através deste Manifesto:
Denunciamos que as empresas Emplavi (financiadora da campanha de
Agnelo), Brasal e João Fortes e outras construtoras destruíram, de modo
ilegal, extensas áreas de Cerrado nativo do Santuário dos Pajés, no
claro intuito de apagar os indícios arqueológicos de ocupação
tradicional da área;
Denunciamos que, além de não garantir o cumprimento de decisões
judiciais e a preservação do meio ambiente e da integridade dos
indígenas e dos apoiadores do Santuário, as diversas polícias têm usado
de extrema truculência na defesa de interesses privados;
Denunciamos que a política de habitação do governo Agnelo nada mains é
que uma extensão do mandato do ex-governador deposto José Roberto
Arruda: prioriza a especulação imobiliária que favorece as bilionárias e
criminosas empreiteiras em detrimento de uma política que atenda à
demanda habitacional das populações mains necessitadas;
Denunciamos que todo este processo irregular de licenciamento e venda
do setor Noroeste dá prosseguimento ao Plano de Ordenamento Territorial
(PDOT) que só foi aprovado por meio de propina no valor de R$ 420 mil
paga aos deputados distritais, como aponta a operação Caixa de Pandora,
da Polícia Federal;
Denunciamos que o governo Agnelo, desse modo, investe na limpeza
étnica na capital do Brasil e destrói nossa memória ancestral, numa
terrível cruzada para impor às pessoas uma história única, uma crença
única, uma cultura única.
Pelos argumentos expostos acima:
Exigimos que os direitos indígenas dos moradores do Santuário dos
Pajés sejam garantidos e respeitados, conforme regem a Constituição
Federal e acordos com organismos internacionais de direitos humanos,
como a OIT, aos quais o Brasil é signatário;
Exigimos que o governo do Distrito Federal, o Ministério Público e
principalmente a Funai, enquanto órgão indigenista oficial, apurem as
atrocidades cometidas contra as populações do local e seus apoiadores,
para que os responsáveis sejam exemplarmente punidos;
Exigimos que a Emplavi, Brasal, João Fortes e as outras empresas
envolvidas sejam punidas, inclusive financeiramente, pelo crime
ambiental que cometeram;
Exigimos que seja oficialmente encaminhado à Justiça o laudo
antropológico concluído sob a coordenação do Antropólogo Professor Jorge
Eremites de Oliveira, indicado pela Associação Brasileira de
Antropologia (ABA) já entregue às lideranças indígenas do Santuário, ao
Ministério Público Federal e à Funai. Este documento atesta que o
Santuário dos Pajés é uma Terra Tradicionalmente Ocupada por comunidade
indígena e demanda a demarcação do Santuário em pelo menos 50 hectares;
Exigimos que seja criado o Grupo de Trabalho (GT), de acordo com o
decreto presidencial 1775, no intuito de implementar a identificação,
delimitação e demarcação do território tradicional dos povos que habitam
o Santuário dos Pajés, que há décadas vêm perpetuando seus valores e
conhecimentos tradicionais, como fonte inabalável de sabedoria e Bem
Viver;
Por último, exigimos que sejam suspensas todas as obras na área
reivindicada pelos indígenas, a fim de que se preservem as potenciais
“provas” a serem usadas nos estudos a serem feitos pelo GT a ser criado.
Brasília, Distrito Federal, novembro de 2011
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